29.7.17

Bairro Nova Sintra

"Se algum dia
À minha terra eu voltar
Quero encontrar
As mesmas coisas que deixei

E correr como em criança
Nos verdes campos do lugar
Quero encontrar
A sorrir para mim"

Verdes São os Campos

Através da janela, à minha frente, o campo estende-se num verde viçoso. No horizonte grossas nuvens iam-se formando, a chuva vinha aí.

A melancolia apossa-se de mim. Olho pela janela e, fechando os olhos, regresso a uma casa, a minha casa, a casa onde nasci!

Não é possível recordares a casa onde nasceste, dizia a minha Mãe, eras pequenino quando de lá saímos, terias dois anos... E nunca mais lá voltámos!

- Mãe, a casa era assim! – explicava eu. Um corredor, ao lado os quartos, a cozinha ao fundo, onde também costuravas e uma janela, uma janela que dava para o campo.

Com a mão no queixo e o cotovelo apoiado no parapeito da janela, ficava horas a olhar para o verde daquele campo.

Por certo naquela idade ainda não tinha idade para sonhar! Olhava talvez pelo verde que se estendia até tocar o azul do céu. Ou pelas nuvens grossas que se iam formando tal e qual como hoje... e a chuva caía, caía ora de mansinho ora em grandes bátegas. O céu era atravessado pelos raios, como se uma criança pegasse num lápis e desatasse ali a riscar sem nexo. Talvez estivesse eu a pegar nesse mesmo lápis e o riscasse. Em pinceladas colocava aquelas nuvens mais escuras, clareadas aqui e ali com relâmpagos,...

...E o verde do campo torna-se mais verde. Gotículas ficam agarradas às suas pequenas hastes apontadas para o firmamento.

Talvez sonhasse com um futuro lindo para todos os meninos como eu. O meu cabelo era amarelo como as espigas de milho. Eu era a natureza, a natureza era eu!

Hoje sou uma réstia daquilo que era, mas olho através da janela e continuo a ser o que sempre fui... Um Sonhador!

25.7.17

"A Lingua da Sogra"

Vendedores de língua da sogra e de gelados na praia da Póvoa de Varzim (foto anos 40).

Neste grupo destaca-se o famoso Franklim dos "Paladares" (em cima à esquerda). O homem dos caramelos gostosos que se comia na nossa Póvoa. Sempre com "olha o caramelo americano", e a brincadeira com o cigarro, metia dentro da boca e de lá saía aceso.

foto de Amadeu Milhazes Carvalho filho do dono da fábrica (ao meio em cima).


20.7.17

Os gelados na Póvoa

Os gelados eram vendidos nestes carrinhos. Estavam sempre na Avenida dos Banhos e a bolacha da GELSANDE era tão fina fina que passado uns tempos já lambuzávamos os dedos.


fotos cedidas por: Amadeu Milhazes Carvalho

12.7.17

Mário Carcereiro

Disse o meu tio António da Conceição (falecido recentemente) ao jornal Correio do Porto:

“Casei em Fevereiro de 1947, e a 10 de Abril fundamos a Banda da Póvoa, fruto de uma fusão entre as bandas "Os Passarinhos" e "Os Malhados". A ideia partiu do Mário Carcereiro. Embora eu tivesse aprendido a tocar Barítono nos Malhados, ajudei-o a fazer a fusão. Houve diversas reuniões e zangas entre as famílias, mas o objectivo foi conseguido. Integrei a primeira direcção presidida pelo Mário Carcereiro. Quando ele faleceu houve eleições e assumi a presidência."

Quem era então Mário Carcereiro?

Nos livros que tenho do Ilustre escritor José de Azevedo, ofertas do meu irmão Josué Lima, pela 2ª vez reparo que um nome que muito me diz, tem surgido em alguns temas.

Falo do meu padrinho de batismo Mário Carcereiro (por isso me chamo e com muito gosto de Mário também).

Não sei muito dele. Saí muito novo de Portugal, as poucas recordações que tenho era quando cachopo ia na Páscoa, ter com ele buscar o pão de ló e pouco mais.

Neste livro que estou a ler "A graça que a Póvoa tem", refere José Azevedo que o meu padrinho era presidente da "Banda dos Passarinhos" (Sociedade Musical da Banda Povoense Concelhia) que rivalizava com a "Banda dos Malhados" (Banda Musical a Poveira).

Gostei de saber um pouco mais sobre o Mário Carcereiro que segundo penso por ouvir há muitos anos dizer, era carcereiro da prisão da Póvoa (ou talvez não, que as alcunhas surgem sabemos lá muitas vezes a razão).

Era muito amigo do meu avô Benjamim Lopes da Conceição, sapateiro no antigo mercado David Alves, perto do torreão que dava para a bomba de gasolina e do meu pai Alfredo Lima.

Nestas duas fotos está o meu padrinho que nunca mais o vi. Ficou o teu nome em mim, Obrigado!

Fotos:

1ª - O meu tio António
2ª - O meu padrinho é o 1º à esquerda ao lado da tarjeta (o meu pai de gravata e casaco claro, está do mesmo lado) tirada no Bussaco (na época era assim escrito o Buçaco de hoje) em 16.06.52. Eu iria nascer quase dois meses depois.
3ª - Sem data (mas deve ser do mesmo ano), o meu padrinho ao centro ao lado do meu avô, à direita. O meu pai está atrás.

As duas sereias

Uma das coisas que me agradou quando comecei a ver a minha Póvoa com olhos de ver, foi esta frontaria sita na Junqueira. Em alto-relevo, estas duas figuras representando duas sereias e como sereias que são estão semi-nuas o que para a época foi um escândalo (e para algumas almas ainda hoje o é), onde se chegou ao ponto do Prior da Matriz proibir a passagem da procissão pela Junqueira pois a casa das duas sereias era considerada uma provocação demoníaca e para que os seus figurantes não caíssem na ratoeira do Demónio ou tentação do pecado, é sem dúvida, uma frontaria a ver para quem pela Junqueira passeia, pela qualidade escultórica que emana daquelas duas figuras.

Obra do escultor portuense Sousa Caldas, dentro da Arte Nova (a Arte Nova foi tardia e de pouca duração em Portugal. Teve início por volta do ano de 1905 e terminou 15 anos mais tarde em 1920) é sem dúvida um ex-libris da nossa cidade, uma pela beleza das figuras, outra porque está no centro o nosso brasão (expressão burguesa do Brasão da Póvoa de Varzim conforme consta na wikipédia), não deixa de ser bonito e bem enquadrada entre as duas sereias.

Segundo o que li no livro "No Reino da Póvoa" de José de Azevedo (um livro a ler tal como os outros deste autor), este edifício foi mandado construir pela Tia Constança do Agulha com o dinheiro enviado pelo marido Tone Maravalhas, emigrado no Brasil, em Manaus. Depois do seu falecimento foi o seu filho Admário Ferreira (poeta, publicista e director do semanário local "O Banhista" e "O Banhista Informador") que ali abriu a "Livraria" Académica.

As duas fotos representam o passado e o presente deste local no que concerne à beleza das imagens.

Fontes:

- wikipédia
- Revista "A Póvoa de Varzim - Repositório Digital"
- Livro "No Reino da Póvoa" de José de Azevedo de onde foi retirada a imagem antiga do local.

Foto atual: Mário Lima


11.7.17

"UM CONTO DE DUAS CIDADES"

No dia 31 de maio de 2017, no Cinema Garrett, estreou-se o filme de Steve Harrison e Morag Brennan "UM CONTO DE DUAS CIDADES".
Para quem não o viu, que foi o meu caso, aqui fica a apresentação do mesmo e a sua sinopse.

Filme "Um Conto de Duas Cidades",
de Steve Harrison e Morag Brennan

Sinopse:

“Começando com a famosa fotografia de Maria do Alívio, de 16 anos, a andar descalça pela Rua das Lavadeiras, o filme conta a história de duas Póvoas de Varzim muito diferentes.
- a comunidade piscatória e a realidade brutal de um modo de vida tradicional – a coragem, carácter e solidariedade que ajudaram o povo a sobreviver.
- a cidade turística – os indivíduos cuja energia e iniciativa transformaram este trecho de 1 km de areia numa meca para milhões de turistas.
Não só se obtém um vislumbre histórico de um mundo que agora está quase esquecido, como também se poderá ver uma parte da história portuguesa que alguns desejam esquecer: a vida sob o poder de Dr. Salazar.
Primeiro há o relacionamento especial que o ditador teve com a comunidade de pescadores e a cidade turística; e depois poderá ver-se então como a Póvoa foi o cenário dramático para o confronto entre o regime de Dr. Salazar e o homem que jurou derrubá-lo. Um Conto de Duas Cidades apresenta-nos duas visões de uma mesma cidade, relatadas a partir de entrevistas a testemunhas oculares, às vezes hilariantes e outras vezes dolorosas, mas sempre inspiradoras e reveladoras.”

Curiosamente o título é o mesmo de um romance de Charles Dickens (Tale of Two Cities - Uma história em duas cidades ou Um Conto de Duas Cidades).