26.3.08

O Jogo da Péla

  O jogo da péla é um jogo tradicional poveiro. Consiste na formação de dois grupos com número igual de rapazes e raparigas. Os chefes de cada grupo começam a escolher e como cavalheiros que são começam pelas raparigas.

  Formadas as equipas, os que menos jogam são, como é óbvio, os últimos a serem escolhidos, mas, como sói dizer-se, os últimos são sempre os primeiros e é sempre por estes que o jogo começa. Se tiverem "azar" ficam logo eliminados à partida.

  Os chefes de cada grupo oferecem os pontos para os que ficam em cima a jogar e os que ficam em baixo a defender.

- Dou-te um
- Dou-te dois
- Dou-te três
- Vou com os quatro para baixo

... E lá vão eles!

(familiares meus a jogarem à "péla")

  Os de cima começa a pedir o primeiro ponto do el enquanto os de baixo quando vão para cima já levam os pontos que foram combinados à partida. Lançam a péla, se os de baixo a apanharem o que a lançou fica logo fora, se a péla cair ao chão, o mais destro dos de baixo tenta acertar na cachola, se o conseguir lá fica o jogador dos de cima de fora, se não acertar, conta o que joga um ponto para o seu grupo.

  Depois do Mirolho (o mesmo que vesgo, estrábico), o jogador que lança a bola verifica se há possibilidades do grupo de baixo não apanhar a péla e tenta enviá-la para o mais longe possível pelo ar. Claro que os de baixo estão dispersos para verem se conseguem apanhá-la antes da mesma cair ou então que fique o mais perto da cachola.

  As raparigas que estão perto da cachola quando os de baixo tentam acertar lá os vão “provocando” com: «Serrubica, a cachola tem uma bica» ou «Olha essa mão, que me não leve em vão»

  E conforme os grupos vão lançando lá vão dizendo:

«Primeiro!... Senhor do Cruzeiro!... Come a carne e deixa o carneiro!»
«Dois!... Pega na varinha e vai picar os bois!»
«Três!... Santa Inês! Nunca lhe dês senão uma vez!»
«Quatro!... Um bocado de pão bolorato!»
«Cinco!... Um brinco!»
«Seis!... Panela velha toca os reis!»
«Sete!... Um canivete que te espete!»
«Oito!... Um biscoito!»
«Nove!... Dá esmola ao pobre!»
«Dez!... Dança com os pés!»
«Onze!... Um bocado de pão de bronze!»
«Doze!... Acabar o él!»

  E aos gritos do nome de quem vai atirar à cachola lá vão dizendo, apontando para o desvio da dita, «Olha que por aqui e por ali também é caminho».

  Depois é uma algazarra quando os grupos se cruzam no mudar de lugar

  E assim os poveiros vão passando a tarde à espera do compasso. Hoje vêem-se grupos pequenos aqui e ali. Ainda joguei à péla há uns anos atrás na Rua dos Ferreiros com a minha tia, irmãos e primos.

  São estas tradições que se deveriam manter. Não vem nenhum mal ao mundo jogar à péla. Só os poveiros é que têm dentro deles a alma e o querer em serem Poveiros. Mesmo longe é grato saber que nunca a Póvoa é esquecida.

Obra consultada: «O Poveiro» de A. Santos Graça

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