26.10.18

O "Ressuscitado"

João dos Santos Pereira Marques e a sua mulher Aurora, A-dos-Assobios, morava na ilha onde morei durante um ano, a Ilha do Padre. A casa deles era do lado da Rua Cego do Maio, mesmo à entrada da Ilha. A Ilha fazia "ligação" com a Rua Dr. António Silveira pela casa do meu avô e da minha avó, Benjamim Lopes da Conceição e Arminda Dias, e da do tal padre que deu "nome" à ilha.

Ficou-lhe a alcunha de "ressuscitado" porque numa noite, a catraia onde ele seguia «Tememos a Noite», soçobrou durante uma tempestade. Três dias se passaram, todos os restantes pescadores foram dados como perdidos. Mas uma silhueta recortava-se no mar quando o barco do mestre Zé Alardo estava no mar. O filho viu uma bóia a bombordo, perdida, «Mude de rumo - disse ele ao pai - que há ali qualquer coisa.» Era o João Caramelho.

O corpo estava carcomido pelos peixes e caranguejos. Com o corpo em chagas e com uma multidão na praia aguardava-os (avisados pelo Manco do Vermelho que tinha regressado antes), para verem tamanho "milagre" e tocarem no Ressuscitado. Este foi para a Casa dos Pescadores, onde permaneceu algum tempo, regressando à Ilha do Padre, onde a minha querida avó acabou de o tratar e dando parte do que trazia das aldeias onde vendia o peixe, ajudava o casal na hora do infortúnio.

O João Caramelho, o "Ressuscitado", faleceu em fevereiro de 1972.

fontes consultadas. "Histórias do Mar da Póvoa" de José de Azevedo, e a minha irmã mais velha, São, que sempre viveu na Ilha do Padre com os meus avós.

foto: Associação Poveira de Colecionismo

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