10.9.13

Um Largo com "estória"

Vivia na Rua Dr. António Silveira na "Ilha do Padre" na casa do meu avô Benjamim, sapateiro no antigo mercado Dr. David Alves.

2ª porta à esquerda depois do torreão

Na época (1961) este largo não era assim. Conheci-o como Largo do Correio e aí estacionavam as camionetas de excursão dos alunos das escolas.

"Largo do Correio" hoje "Elísio da Nova"

A minha escola primária era na Tenente Valadim. Hoje velha, decadente mas com o pau da bandeira bem firme, espera a machadada do tempo para lhe afogar os risos das crianças que ecoavam já nas suas velhas escadas.

Ali aprendi as primeiras letras de uma professora que fazia chegar a caninha-da-índia ou a palmatória ao mais afoito que dela tivesse pejo em contrariar ou, que os trabalhos não tivessem sido feitos na sebenta ou na lousa onde o pau de giz, transformava riscos em palavras.

A minha professora, Dª Maria Luísa

Uma excursão de alunos até Braga. Custava um dinheirão. Mas pataca aqui pataca ali, lá consegui reunir para a viagem. A minha avó Arminda prepara-me a lancheira num cesto de vime. Pataniscas, pão e o famoso "pirolito" e lá vamos.

Ainda tenho na memória essa viagem por ter sido a única. O local onde lanchámos, entre o arvoredo era lindíssimo.
As nossas brincadeiras se manifestaram ali como pequenos pássaros saídos da gaiola. Até a professora rezingona tinha mudado de expressão, sendo mais cândida e alinhando com estes pequenos patifes.

De regresso, ao nosso lado aparece o carro do distinto avogado Fernando, morador na Vila Aurora, onde eu brincava com o seu filho Fernando de seu nome, hoje tal como o pai, também advogado da nossa praça.

Tinha-lhe chegado aos ouvidos que a nossa camioneta tinha caído na velha ponte romana de Ponte de Lima. Como possuidor de um dos poucos carros existente na época, apressou-se em saber se tal correspondia à verdade, Felizmente não!

Vai ele de regresso à Póvoa dando a boa nova a quem dela aguardava com ansiedade.

Camioneta chegada à Póvoa, a este Largo. Dezenas de pessoas aguardavam-nos. Mães, tias, avós, quase toda a comunidade poveira ali estava. Embora soubessem, queriam ver com os seus olhos os seus pequenitos, pois se a notícia era boa, melhor seria saber que, por vontade de Deus, tínhamos saído de um acidente que não tinha acontecido connosco (houve realmente um acidente mas foi com alunos de outra escola, de onde já não me lembro).

... E saídos da camioneta era um abraçar, os ais de satisfação de quem nos apertava ao peito, de lágrimas sentidas e não fugidias. Nós, pequenos lobinhos do mar, sentimos ali que o sentir da nossa gente de quem de nós gosta, vale mais que todos os "pirolitos" do mundo.
A famosa bebida da época "O Pirolito"