22.9.09

"À la Minuta"

«À tua memória Ti Manel, fotógrafo «à la minuta»


O meu Tio Manuel, era um dos fotógrafos que faziam do Passeio Alegre o seu poiso natural e ali tirava fotos «à la minuta» aos veraneantes. Ia muitas vezes até à Figueira da Foz e o seu calcorrear levou-o até às praias de Luanda onde era muito solicitado.

Foi sempre um homem com uma cultura acima da média e dele ouvia dizer que a Póvoa tinha 17 Igrejas e uma escola. Para bom entendedor meia-palavra basta. Muitas vezes o vi a tirar fotos no Passeio Alegre e a ele dedico este meu texto, pois fazia-me confusão na época, como é que ele metendo a cabeça dentro de um pano fazia surgir como magia pessoas impressas num papel. Este texto é como voltasse a ser essa criança e ver o meu Tio de novo junto à estátua do «Cego do Maio» a tirar uma fotografia «à la minuta».

  Na minha terra há lá umas pessoas que tiram umas fotografias às pessoas que lá vão passar o verão. É muito giro. Parece uma caixa de sabão e tem um pano preto num dos lados. As pessoas que tiram as fotografias colocam a cabeça dentro dela. Não sei a razão mas tenho a impressão que é para ver as pessoas de pernas para o ar... são uns marotos!

Ósdepois tiram a cabeça lá de dentro, olham para as pessoas e dizem: «Olhó passarinho»!

Uma vez vi uma cena muita gira, quando a pessoa que tira as fotografias disse «Olhó passarinho», o puto que ia ficar na fotografia começou a olhar à volta para ver onde estava o raio do passarinho e depois viu uma série deles com o tabefe que o pai lhe deu. Isso não se faz, bater assim nas crianças!

Depois a pessoa que tira fotografias, tira de lá de dentro uma cartolina branca com as pessoas brancas com cor preta, coloca a foto de pernas para o ar em frente à câmara e volta a dar um «click» numa coisa que tem na mão. Palavra que não percebo por que razão tem tanto trabalho, mas sou sapateiro no assunto.

Assim, quem os quiser ver, pode ir até ao Passeio Alegre na Póvoa de Varzim, onde, de vez em quando, aparecem ainda estes fotógrafos "à la minuta”. É um regalo verificar que a tradição ainda é o que era.


Foto: eu e a minha mulher tirada na minha terra em julho de 2005



09-05-2005