5.8.09

Os pequenos lobos do Mar

Morando na casa dos meus avós na “Ilha do Padre”, entre a Rua António Silveira e a do Cego do Maio, com o mar por tão perto, sempre que se podia, lá ia eu mais os meus irmãos, até ao porto de pesca para uns banhos naquelas águas enquanto ao lado as mulheres iam varando os barcos dos pescadores, os homens de cigarro ou cachimbo cozendo as redes, a garotada dando mergulhos numa algazarra própria da idade enquanto o argaço secava ao sol.

Foto da net

Naquele mar brincávamos com botes de folheta, no cais, quando a maré estava vaza, procurávamos pequenos peixes, lapas, caranguejos e pequenos polvos. A “Boca do Lobo”, que fazia a ligação entre o porto e a praia de banhos, era assustadora, mas nós éramos uns pequenos lobos do mar, embora ninguém da nossa família directa fosse pescador, só por casamento, fazíamos do mar o nosso poiso.

A arraia miúda poveira tinha o costume de se atirar ao mar completamente nus. Depois deitavam-se na praia, aconchegavam ao peito a areia e ali ficavam aquecendo ao sol os corpos.

Foto Studio (autor David Augusto Fernandes)

Um dia, mais uma vez, vou com os meus irmãos até à praia. Lá chegados há que retirar a roupa, primeiro os calções, a camisa e mais junto ao mar o resto, e ala um mergulho no mar.

Naquela época usávamos cuecas de pano cru, bem ásperas, com dois botões para a apertar (muitas vezes esses botões lá iam no jogo da “pincha” (botão), mas isso são outras histórias).

Aconteceu é que mergulho atrás de mergulho, correrias e brincadeiras, quando chegou a hora de virmos embora a minha cueca tinha desaparecido. De tão perto da água ficara que uma onda mais afoita levou-a.

A minha aflição foi como explicar isto à minha avó. Iria lá acreditar que o mar a tinha “engolido”!...

Tantos anos passados, não me lembro da reacção dela, mas se não me lembro é porque a minha avó acreditou na história, e com os meus irmãos a apoiar não iria duvidar. É que esses tempos eram de parcas posses, e umas cuecas, mesmo de pano cru, custavam dinheiro.

Os tempos de hoje são outros, não sei se os pequenos lobos do mar ainda tomam banho nus naquela praia do porto de pesca. Se sim, que um deles dê um mergulho por mim como se o hoje fosse ontem!

Fotos da net, montagem Marius70

Ala-Arriba pela Póvoa!

2 comentários:

Leão Verde disse...

Olá mano,
mais um teu "regresso" ao passado poveiro da tua/nossa infância, agora a relembrares a estória da cueca levada pelo mar.
Inicialmente pensamos que a encontraríamos enterrada na areia, pois, como bem o dizes, as posses eram parcas para nos darmos ao "luxo" de deixarmos de a procurar no areal antes de chegarmos à conclusão de que teriam sido levados pelo mar.
A avó compreendeu bem a tua/nossa "aflição" e reagiu bem à situação.
Hoje está tudo diferente para melhor e já não se dão mergulhos naquela zona de pesca e muito menos nús.
Foi bom fazeres recordar através das imagens alguns aspectos da nossa Póvoa do antigamente. Especialmente a dos pequenos lobos do mar nudistas.
Um abração
Leão Verde

Anónimo disse...

Márius, só hoje, constatei este tema. Como me lembro...! Aqui, em Aver-o-Mar, também era assim. Não era preciso ser verão. Mesmo na Primavera, às vezes com bastante "nortada", os putos "araus",como eram conhecidos ( eu incluído)faziam exactamente igual.Tudo fora e...água! Depois, areia para secar e, sempre de barriga para baixo, como a foto documenta. Mais: quando "naquele sítio" começava a coisa a "ficar preta" fazia-se dois buracos numa boina (gorra) enfiava-se ,a fazer de calção, apertava-se com um fio e vamos embora nadar...
Eram praias de nudismo não comercial.Hoje existe uma aqui bem perto. è na Estela, 10 kilómetros a norte da Póvoa. Não é oficial e, aliáz, tem dado muita celeuma, por parte dos habitantes da freguesia!
Abraço, M. Lopes.