4.11.08

Cinema Garrett



  Quinta-feira, dia de matiné no velho cinema Garrett. Tinha que ir, não podia deixar de ver o meu ídolo da época.

  Mas era também dia de aulas e não havia dinheiro. Quinze tostões custava o bilhete no 3º balcão e ter quinze tostões em 1960 não era fácil. Havia que arranjar forma de também não ir às aulas pois era filme a não perder.

  Nessa altura já os meus pais estavam em Luanda e nós vivíamos em casa dos nossos avós aguardando a hora de partir também para a terra das bananas (foi a primeira coisa que perguntei ao meu pai quando lá cheguei, se tinha bananas em casa e o meu pai disse que sim, até que enfim que ia provar as ditas cujas).

  Os tostões lá se arranjaram, a minha avó lá me deu 5 e as minhas tias o restante. Tinha o dinheiro mas ainda faltava sair das aulas para ir ver o filme. Não sei a razão mas penso que fiquei com uma dor de barriga tão grande que a professora sensibilizada com a tamanha aflição disse para eu ir para casa descansar.

  ... E ali no Cinema Garret, depois de subir as escadas laterais, com os miúdos todos numa algazarra tremenda, naqueles bancos corridos (quem ficasse na última fila já sabia que ia ficar todo «curvadinho» devido à inclinação do telhado) abriram-se as cortinas e ao som de uma voz cristalina vi o filme Joselito “O Pequeno Coronel”. Muitos outros filmes vi naquele velho Cinema, mas este ficou-me na memória pois todos nós na época, éramos uns pequenos coronéis no seu cavalo branco.


  Hoje, o Cinema Garrett necessita de obras de fundo para se recuperar do esquecimento a que foi votado durante anos.

  "Arranca quando tiver que arrancar", afirmou um responsável da Câmara sobre as obras prometidas. Espero é que quando arrancar, se arrancar, a demora não seja tanta que provoque a sua derrocada e que dum cinema que alegrou a pequenada no passado nada mais reste que uma imagem em postais da Póvoa de Varzim antiga.