22.7.08

A Minha Velha Escola

  Póvoa de Varzim, ano lectivo 60/61. O mar bramia, medonho, batia furioso no cais lançando espuma que não espraiava ali onde os barcos acostavam mas galgava a estrada, pela lota, levando tudo à sua frente.

As ruas Tenente Valadim, Dr. António Silveira até à Rua 31 de Janeiro eram um lago de mar e chuva que caía incessantemente. O ribombar, os clarões dos trovões e aquele mar doce/salgado não o impedia de conseguir o pretendido, ir à escola.

Com a sua malita de cartão, onde nela estava a "Sebenta", o aparo de “pena”, afiador, mata-borrão, a tabuada, os livros e demais apetrechos escolares, enfrentava a fúria dos elementos.

Com água pela cintura, molhado até aos ossos, a criança ia a pouco e pouco tentando chegar àquele lugar com um mastro, onde a bandeira portuguesa era içada todos os dias, as carteiras de madeira, o quadro negro, o mapa de Portugal com as Serras e Rios, a cruz e, como sempre, por cima do quadro, o retrato do ditador Salazar e do presidente Américo Tomás.

Quanto mais se afoitava no avanço mais tinha que levantar os braços, levando os livros à cabeça que nem Camões.

Exausto, com o frio a tolher-lhe os movimentos, entra na escola.

“Acorda” uma semana depois, com uma tosse persistente. O corpo franzino não aguentara, uma cicatriz na pleura persiste, lembrando-lhe esse momento de querer é poder e que, quando a vontade é enorme, não há nada que o impeça.

A minha velha Escola ainda está de pé. Há-de cair um dia e, no dia que cair, mais um pouco de mim cairá com ela.


(foto LeaoVerde)


  Os meus livros da 1ª à 3ª. A 4ª classe já foi em Luanda e penso que o livro era diferente.

(oferta do meu irmão)