25.2.08

Como eu o recordo!...


  Como eu gostava daquele velhote. Ainda hoje o recordo, ali no antigo mercado da Póvoa, debruçado na sua banca cheia de palmilhas, cola, fio norte, sebo e o sapato na forma pronto para umas meias-solas.

  Como ainda me lembro quando ele ía até ao "Zé Trafulha" e deixava a loja entregue a uns miúdos que faziam patifarias na sua ausência como brincar aos cowboys e aos índios, amarrando os pulsos com esse fio danado e que, ainda hoje, marius70 tem uma recordação de um corte feito com essa faca afiadíssima com que ele cortava a sola, pois quando estava amarrado ao poste (era o cowboy) alguém gritou que o velhote vinha e zás lá vai pulso que o fio era rijo não fosse ele do norte. E ele nunca se esquecia daqueles miúdos e trazia a broa de sardinha que tão gostosa era e, de vez em quando, lá vinham uns pirolitos (antiga gasosa, hoje desaparecida que fazia as delícias da garotada).

  Como eu recordo daquela covinha no queixo e que, ainda hoje, tenho tendência em fazer uma covinha no meu para ficar igual ao dele.

  Como eu o recordo na "ilha" entre a Rua Dr. António Silveira e a do Cego do Maio, junto àquela mulher tão querida, com as suas saias até ao chão, que quando marius queimou um pé foi dela que recebeu o tratamento com uma agulha e linhas a furar as bolhas e deixar assim escoar a água nelas formadas.

  Como eu o recordo quando ele ia ao "Gato-Preto" comer o seu bacalhau e beber a boa pinga saída do barril.

  Como eu o recordo daquela vez que ia comigo e com o meu irmão, e nos deu uma lição de humildade ao fazer-nos sentir que nesse momento não era exemplo para ninguém quanto mais para nós, e só tinha um grãozinho na asa e nada mais.

  Como eu recordo este velhote que tanto gostava e ainda gosto esteja ele onde estiver, … o meu AVÔ BENJAMIM!

Era do lado esquerdo que o meu Avô tinha a loja, a seguir era um funileiro. No torreão, em baixo, tinha um «Pomar» onde muitos diospiros "fanei". Do lado dto havia um barbeiro onde, sentado numa tábua, muitas vezes cortei o cabelo.

1 comentário:

Anónimo disse...

E como seria bom, Márius, que voltassem a chamar-te o "puto Trinca-Espinhas" Ou será não te chamavam, na altura?
Um abraço desde a Póvoa do Mar.

M. LOpes